sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Economia brasileira Contemporanêa e Projetos Internacionais

Economia brasileira contemporânea & Projetos Internacionais: dualismo analítico como sugestão para negociações globalizadas, por José Ribeiro Machado Neto

 
 
 
 
 
 
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Ao se considerar a importância estratégica do comércio internacional, a ênfase atual em direitos humanos e as negociações entre estados os principais eixos básicos da maioria dos cursos de relações internacionais (REL) no Brasil, torna-se mister o conhecimento e domínio de duas realidades que, mesmo próximas, são de certa forma excludentes: i) Economia Brasileira Contemporânea (EBC); e ii) Projetos Internacionais (PI).
Inicialmente, vemos que na maioria das vezes, estas disciplinas são vistas como matérias de ciclo profissionalizante, ou seja, conclusivas. Entretanto, em alguns casos, tomadas como simples opções a mais nas grades de matérias obrigatórias, oriundas da visão hegemônica do pragmatismo econômico, ainda levado muito a sério no universo da graduação em ciências humanas e sociais.
Observa-se nessas disciplinas, à semelhança e proximidade das grades curriculares dos cursos de REL e POL – ambas com paradigmas convergentes que têm sido ao longo do tempo justificados por objetivos, metodologia, periodicidade, identidade literária, número de créditos e, inclusive, por estarem ainda na fase conclusiva dos périplos discentes – um leitmotiv para antecipação de praticidades didáticas inovadoras e extensionistas nos campos ou espaços das relações entre estados e mercados e, também, na exemplificação do universo sistêmico dos regimes políticos.
Em ambos os espaços ou campos acadêmicos o exercício da programação econômica ou política antecede de fato a viabilidade das ações de praticidade. Além disso, pode ser motivo de novas digressões didático-pedagógicas, em função de análogos e próximos graus de importância que representa, notadamente, para os cursos de graduação de REL. Entretanto, com menor destaque para os segmentos excludentes de direitos humanos e meio ambiente.
A EBC, a exemplo das demais economias latino-americanas, tem insistido, com relativa intensidade e sob a forma distinta de propulsora de vantagens recíprocas (Porter, 1993), a sua inserção permanente na nova ordem econômica globalizada, onde os limites e fronteiras dos estados tornam-se mutáveis, de acordo com a intensidade das trocas multilaterais, sob múltiplas formas e, nem sempre recíprocas de negociações.
Entretanto, ímpetos midiáticos sobre o controle da inflação, direcionados para o crescimento expressivo das exportações, firmes no acompanhamento dos coeficientes de abertura e na observância da existência não justificada de superávit primário, não têm sido levados em consideração pelas economias centrais e, paralelamente, pelas cúpulas dos blocos econômicos. Em conseqüência, têm-se um quadro restritivo que amplia o gargalo externo e a dependência político-econômica e tecnológica das economias meridionais que prejudica, sobremaneira, o comando e o norteamento e avaliação de suas políticas externas.
A EBC já não deve ser vista, como há tempos, como uma economia dual, isto é, com funcionamento a cargo de duas estruturas distintas: uma pré-capitalista, com o predomínio do uso de recursos naturais e de mão-de-obra; e a outra, essencialmente capitalista, com uso excessivo e diversificado do fator capital nos seus principais segmentos, numa linguagem segmentada pelo concerto econômico internacional (Braudel, 1979).
Há tempos, a economia brasileira caminha a passos largos para o espectro neocapitalista, cuja linguagem do capital (Braudel, 1979) é paralela à linguagem tecnológica e, ambas – porta-vozes dos sistemas econômicos – ainda estão sempre direcionadas para a negociação – mesmo em diversos quadrantes – com vistas a um processo decisório racional (Vasconcelos & Sousa, 1993). Este quadro – ainda que resumido – pode justificar a necessidade de inserção da disciplina EBC nas grades didático-pedagógicas dos cursos de graduação de REL, principalmente, naqueles cujo enfoque esteja direcionado para negociações bilaterais ou multilaterais internacionais.
O conteúdo da disciplina EBC privilegia a análise das fases de transformações estruturais e de comprometimentos (Cardoso & Faletto, 1970), as alternâncias de modelos e, com maior ênfase, as possíveis inserções de nações emergentes inserção na economia mundial globalizada. O seu conteúdo não é apenas descritivo ou periódico, pois se reveste de pragmatismos esboçados por homens de estado, cujas governabilidades nem sempre marcantes no ciclo de transformações estruturais.
De Deodoro (1989-1891) a Campos Salles (1898-1902); de Washington Luís (1926-1930) a Vargas (1930-1945; 1951-1954); de Juscelino (1956-1961) a Castelo Branco (1964-1967); e de Geisel (1974-1979) a FHC (1995-2002), com alguns interlúdios de governança, de mudanças institucionais (1889, 1930, 1937, 1963, 1964 e 1985), de programas de estabilização (1964; 1967; e 1986-1994) (Salomoni, 1997) e de choques externos (1973 e 1979) (Galvêas, 1985), mutações e variâncias externas devem ser mais do que estudadas, pois deve ser considerada, também, objeto de exemplificações contemporâneas, para possíveis gestações de novos modelos de governabilidade.
A ECB, segundo (Castro, 1997), não deixa de privilegiar o capital, de concentrar renda e riqueza (Langoni, 1976 & Mirow, 1978), e nem de concentrar esforços para garantir a sua inserção externa (CEPAL, 2006), muitas vezes conquistada por vias diplomáticas, mediante acordos, tratados e alianças (Oliveira, 1997; Carvalho, 1998; e Garcia, 2005).
Como se pode observar, a visão da EBC não está  apenas relacionada aos fenômenos internos, mas em grande parte, a economias ou estados influenciadores do processo decisório político-econômico internacional. Posicionamento que magnífica a importância da disciplina como um sério background para a prática de esboços de negociações em diversificados segmentos que constituem o concerto internacional.
Por conseguinte, a disciplina Projetos Internacionais (PI) – um elo entre a teoria e a realidade econômica – permite a interação entre as teorias econômicas e as das relações internacionais, com vistas à materialização de objetivos micros e macroeconômicos, independentes, exclusivos. Ainda, daqueles ligados a acordos, convenções e tratados bilaterais e/ou multilaterais.
É o predomínio da prática com pragmatismos de resultados, que sustentam as bases necessárias para o êxito de negociações entre agentes nacionais, internacionais e transnacionais. Além do mais, estende a prática de planejamento à discussão sobre possibilidades de implantação de projetos bilaterais nas áreas do MERCOSUL e outros blocos que exigem, além da cooperação simétrica (Almeida, 2003), identidades macroeconômicas, a exemplo da União Européia (Pfetsch, 2001).
Na extensão e diversificação da prática de elaboração, análise, acompanhamento e avaliação de projetos (Buarque, 1984), a utilização do exercício de métodos quantitativos – ainda que superficial – e de modelos lineares de crescimento com variáveis institucionais (Machado Neto & Wollmann, 2000), completa a macrovisão necessária ao internacionalista. Este, a partir de então, poderá com mais facilidade alcançar o domínio da geopolítica, geoconomia, geoestratégia (Álvares, 1973; Mattos, 1990; Couto e Silva, 2003) e da cooperação internacional (Herz & Hoffmann, 2004), tornando-se negociador entre estados, organizações internacionais multinacionais e transnacionais (Carvalho, 1982) e, inclusive, entre economias de mercado e economias planificadas (Bettelheim, 1968), que tementes à importância e a escasez do capital, permanecem, na maioria dos casos, estáticas em suas fronteiras.
A tipologia de projetos econômicos fornece ainda, com relativo êxito ao internacionalista, além da possibilidade de escolha de campos distintos do comércio internacional – desde o comércio de commodities (Ângelo & Moares, 2002) – diferentes práticas de alocação de capitais compensatórios em setores estratégicos da economia.
Sob outra ótica ou visão de alocação planejada, disponibiliza aportes a outros segmentos considerados necessários ao equilíbrio geopolítico, a exemplo do militar e, num campo mais restrito, à espacial, mediante o domínio analítico da prática de projetos internacionais e transnacionais, com ênfase à absorção tecnologia de ponta, com múltipla reciprocidade.
Kindleberger (2007) retrata os movimentos internacionais de capitais e Barreto Filho (1999) há tempos, o tratamento nacional de investimentos estrangeiros necessários ao financiamento do crescimento econômico compatível, inclusive, com mutações externas.
O programa de ensino de PI, além de englobar uma unidade preparatória, composta de itens predominantes da teoria das relações internacionais; da teoria econômica, de planejamento setorial e global; de geopolítica, geoeconomia e geoestratégia; de economia ambiental, macroeconomia, macrofiscal e, além disso, de cooperação internacional sob a ótica da teoria realista de REL.
Aglutina, por conseguinte, aspectos teóricos e práticos da técnica de projetos em níveis doméstico e internacional, sob campos teóricos diversificados, que vão além da criação e implementação de novos mecanismos de política econômica e de indicadores sócio-econômicos.
Por extensão, propicia, ainda, estudos de casos em situações difusas, aproximando o analista da visão regional cooperativa, mesmo a assimétrica (Almeida, 2003), sob elencos bibliográficos com diferentes matizes ideológicas, a exemplo do exercício cepalino, advindo da planificação latino-americana, observada com grande intensidade nas décadas de 1950-1960 (Valdés, 1993).
Em síntese, a inserção das disciplinas EBC e PI – um dualismo analítico – nos projetos pedagógicos e nos planos de cursos de REL torna-se um imperativo para a interação da hegemonia teórica com a necessidade da prática operacional, interativa e, principalmente, a interdisciplinar.
A justificativa é simples: a teoria política, a teoria das relações internacionais e a teoria econômica convergem sob diferentes intensidades para o ponto comum da integração acadêmica: a negociação abalizada com maiores possibilidades de êxitos e vantagens compensatórias (Porter, 1993), capazes de eliminar assimetrias entre estados, sistemas concorrenciais e governabilidades, notadamente, em ambientes e visões globalizadas, com tendências conflitantes.
José Ribeiro Machado Neto é pesquisador colaborador e coordenador de extensão e ensino do Centro Integrado de Ordenamento Territorial (CIORD), da Universidade de Brasília – UnB (jrmn1789@gmail.com).

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