sexta-feira, 7 de outubro de 2011

MULHERES de KIVÚ - CONGO KINSHASA ÁFRICA UM PEDIDO DE SOCORRO

Senhoras e Senhores,
 
No período de 31 de Março a 03 abril, estivemos em comitiva nas cidades francesas de Paris e Mantes de la- Jolie, ocasião em que realizou-se a Conferencia Preparatória para O Ano Mundial do Renascimento Pan-Africano, é claro que diante de vários encontros e intercâmbios políticos, culturais e sociais, o que certamente nos permitiu não somente acumular experiências, mais também nos permitiu perceber a importância, a responsabilidade e o fascínio que o Brasil exerce na diáspora africana.  Particularmente me chamou a atenção um grupo de mulheres representada por sua presidente, a Srtª, OFilia, Africana da Cidade Congolesa de Kivú, a qual conseguiu transmitir com muita verdade e realismo as atrocidades que ainda são praticados naquela parte da África. 


Samuel Azevedo
IABEPE
 
 KIVU  
Aqui estão algumas linhas de apresentação que lhe permitirá de conhecer melhor no que consiste esta  associação.
Introdução:
Movido pelo espírito de solidariedade, divisão, igualdade e desenvolvimento sustentável, os fundadores da
ASSOCIATION FEMMES DU KIVU  (ASSOCIAÇÃO MULHERES DE  KIVU) tem como objetivo o desenvolvimento completo do ser humano considerando as especificidades da Mulher, seus direitos e seus interesses, em uma dinâmica da sociedade africana, que tem que considerar o respeito e a dignidade da Mulher.
Objeto:
A ASSOCIAÇÃO MULHERES DE  KIVU tem por objetivo  denunciar os estupros, a violência, as agressões de todos os tipos como também as infrações aos direitos humanos, das mulheres que vivem na região de Nord-Kivu (República Democrático do Congo), as quais são vítimas a aproximadamente uma década por causa dos atos de guerra. A ação da Associação Mulheres de Kivu é traduzida em particular por um apoio material ou imaterial à estas mulheres e conseqüentemente  à população local. Entre os objetivos procurados pela associação estão:

Na maior medida possível e de acordo com as circunstâncias, participar à qualquer ação susceptível de favorecer a emancipação, auto-satisfação e o bem-estar material, moral e social das mulheres na região de Kivu.
Num primeiro tempo, proteger os direitos e os interesses imediatos e futuros da Mulher na região dos Grandes Lagos em geral, no território da República Democrático do Congo.
Proteger os direitos e os interesses da Criança (a qual a Mulher geralmente tem a responsabilidade).
Estas ações serão materializadas pelas ações seguintes. Porém, esta enumeração não é exaustiva e pode evoluir de acordo com as circunstâncias, respeitando os objetivos e os ideais da Associação.
Criação de um centro de reinserção para as mulheres, dando em particular uma ajuda psicológica,
Aprovisionamento de hospitais locais com equipamento e remédio.
Apoio material para as escolas e centros de formação (trabalhos escolares e materiais didáticos). 
Ofilia
A paisagem deve ser observada seriamente e com serenidade para poder beber a seiva vital que não para de ser esparramada Mesmo os cegos conseguem tirar proveito desta beleza
As árvores não param de cantar graça aos sussurros que oferecem a reunião do vento com as folhas, os surdos também tiram proveito desta música celeste e telúrica
 A terra não para de vibrar de suas profundidades, dizendo em voz alta como a sua benção é abundante Vibra em Nyiragongo, resona em Nyamulagera, até mesmo os pássaros no ar sentem estes calafrios nas colinas de Masisi uma visão fantástica se solta, no caminho de Ruwenzori, os gorilas da montanha não param de glorificar as costas prateadas que com um relance orgulhoso afirma sua soberania devido a sua idade de macho dominante
Além da decoração material e imaterial, as pessoas, um país, uma região, uma comunidade, um "sexo" não pára de pagar o preço sem outra forma de processo graças à cumplicidade de todos os barulhos de botas que resonam no fundo de uma hétérofonia indescritível acompanhado de crepitares de armas automáticas que contrastam estranhamente com a decoração dos sonhos que oferece a região
Crianças gritam lá, os homens velhos palpitam com ineficácia do outro lado Os pais tentam proteger suas crianças, as pessoas vão rapidamente  para as florestas próximas para se esconder

As mulheres sós e isoladas choram o sofrimento que isso traz, as forças de autodefesa se apressam para tirar os velhos rifles herdados da última batalha que os agressores abandonaram durante a fuga
Mas isto não é o bastante para acalmar os ardores de alguns e de outros suficientemente armados para lutar contra " o inimigo ".
O sangue chama o sangue a chamada de sangue o sangue, no final nem perdedor nem vencedor, só as vítimas para chorar, cuspindo as últimas raivas antes da morte iminente
Silencio  nossa inatividade se torna incriminante para nossa consciência e não nos pode deixar livre enquanto nós todos soubermos que aqui neste lugar do mundo, a mulher não é reconhecida como mãe, irmã, amiga, "ser humano"
Aqui neste canto paradisíaco, a mulher tornou-se a dor dos beligerantes, a caixa de ressonância de frustrações e vexames à vontade de vitórias e derrotas de alguns de indivíduos armados até aos dentes
Aqui na África, a mulher continua a pagar o preço afim de obrigar uma comunidade, um povo, um país à dar o lugar aos interesses multinacionais, em detrimento do Homem
O estupro é utilizada como arma de guerra
A mulher ainda não parou de gritar pelo seu reconhecimento, ela sangra, mas permanece em vida, ela urra, mas está surdina, sorri mas a realidade do seu interior permanece um desastre sem identidade para nós que somos externos ao seu corpo
Esta mulher se alimenta do sonho parece impossível da sua fé na humanidade de cada um,devemos recordar-nos que é graças a ela que a nação, a humanidade se reconciliará com ela mesma
É graças a ela que a nação reaparecerá amanhã das suas cinzas, parece que atrás de todo “grande homem” esconde-se uma mulher
 Ela se agarra à vida para perpetuar o nosso futuro,“todas as mulheres são rainhas” trautea ainda Ismaël Lo
A História recente aqui neste canto do mundo nos testemunha uma obstinação impossível de alguns intrusos que difundem as armas e ideologias inumanas graças à bênção do coltan,da cassitérite, da riqueza destas terras

Estamos mesmo no Congo, este aqui remoto dos nossos corpos mas bem presente na nossa alma é o Leste deste país que sangra, nós estamos mais precisamente no Kivu
Esta região extremamente rica, mas escandalosamente pobre tornou-se desde duas décadas a sede da imoralidade, do barbarismo, da perversão impossível


As atrocidades que ninguém  pode imaginar humanamente falando são de uma realidade inconcebível
Os que pagam o preço evidentemente são os mais fracos, ou seja, os velhos, as crianças, mas sobretudo as Mulheres
A mulher do Kivu tornou-se um màrtir desde a transplantação ao Congo dos acontecimentos dolorosos de 1994 que aconteceram no pais vizinho, Ruanda
As notícias de todas as partes nos informam com uma analogia surpreendente que não podemos mais de nenhum jeito deixar-nos indiferentes
Nos jornais oficiais ou não, somos informados de uma dedução reveladora de um mal que não podemos mais aceitar
A Mulher paga um preço caro ao passar a ser a presa de indivíduos armados, o quadro de expressão de uma cumplicidade favorecida por um acordo de silêncio coletivo
“Mulher negra mulher africana” como podia encantar o Camara Laye, tornou-se neste canto do mundo um objeto para saciar uma dominação ou significar o grau de convicção do ódio difundido pelos bandos armados
Os rebeldes, as tropas leais, as tropas estrangeiras, as das Nações Unidas, toda são responsáveis, culpadas de uma situação que não pode mais ser asfixiada
Estamos numa fase onde o homem se afirmou na sua qualidade de primeiro depredador do Homem
 Ele viola, massacra, decapita, mata para mostrar os seus bíceps, a sua potência e sobretudo para difundir um medo que pensa confortar o seu fictício poder
A mulher tornou-se o instrumento de demonstração deste poder insalubre
Qual poder?  O do dinheiro que provem do sangue da terra do Kivu, mas também do sangue do seu povo
 As riquezas abundantes desta região obrigaram todos os beligerantes a se retrair da sua missão principal que era e é assegurar o bem estar coletivo
A mulher do Kivu está sujeita à estupros em massa,coletivos, orientados e organizados
A mulher do Kivu é utilizada para intensificar o terror na região
Au vu et su de tous, falhamos à nossa missão, ao nosso dever de ser humano
Nos recusamos à encarar de frente esta realidade, preferimos nos limitar com fatos que distraem em vez de enfrentar a realidade criando uma sociedade justa
Definir as atrocidades ocorridas no Kivu não servirá à nada, porque não tem mais nada à ser dito,as palavras não saberão mais nos descrever esta realidade, ela excedeu a imaginação
Assim a consciência e confiança na humanidade de todos, nós  somos também responsáveis no momento em que nos calamo, cruzamos os braços nos  satisfazendo do nosso “trem trem diário”,enquanto sabemos tudo o que se passa no Kivu e que as mulheres  desta região sofrem
Razão pela qual, convidamos vocês não somente para observar, mas participar restabelecimento, de uma nova sociedade
Dar outra possibilidade à estas mulheres de acreditar de novo na vida e na humanidade,mostrar à elas que nós estamos preocupados, nós trabalhamos para a melhoria da situação delas e que elas podem sair deste ciclo assassino
A Associação Mulheres de Kivu é uma organização não-governamental que tem um único objetivo o de com que as vítimas de seqüestros, atrocidades que acontecem nesta região possam recuperar a humanidade delas, mas especialmente lhes dando os meios para um começo novo

Este organismo tem a função de trabalhar para restabelecer estas possibilidades e convida todos os atores diretos e indiretos com à trabalhar nesta direção
Ajudar as vítimas diretas e indiretasseria o único meio para nós não sermos cúmplices destas atrocidades, o que tem que nos preocupar mais é a indiferença
Tentar criar uma dinâmica que permite ajudar diretamente estas vítimas graças aos meios que temos, de maneira à atingir precisamente o nosso objectivo em nome da humanidade
Por isso que nós convidamos à todos de unir-se à todos para construir e reconstruir o que o homem destroiu de humano nas mulheres do Kivu
A nossa fé nesta virtude de Justiça e de dever de Humano nos permite contar com a sua aparticipação ativa nesta obra
Isto nos permite de nos destacar dos conglomerados que favorecem estes crimes e, sobretudo nos coloca no centro do tormento para restabelecer a humanidade perdida nesta região
O nosso dever é sem dúvida fazer circular a palavra e nos  assegurar que todos estejam informados do que se passa neste canto do mundo
Assim podemos graças à implicação de cada um trabalhar para um novo começo da mulher do Kivu
Sabendo que uma mulher mortificada significa o futuro de um povo oxidado, são os únicos a poder reparar esta situação a tempo, isto se refere à todos nós  e o nosso futuro depende disso
A educação de um país, de um povo se transmite primeiro pela mulher
O futuro se conjuga e se atribui à Mulher, a Mulher é um Mundo, é o futuro
Ofilia Mulheres de KIVÚ

SAMUEL AZEVEDO

Um comentário:

  1. Muito bom esse texto, eu já conhecia a história das mulheres de Kivu, pois minha fonte de pesquisa acadêmica centeri nas mulheres africanas.
    Parabéns pelo blog.
    Profª Diana Costa

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