sábado, 9 de junho de 2012

Balaio de Ideias: Ouvi, vi, li,aprendi, transmiti

postado por Cleidiana Ramos @ 2:35 PM
8 de junho de 2012
Mãe Stella faz reflexão sobre capacidade de estar aberto a aprender. Foto: Diego Mascarenhas / Ag. A TARDE/ 09.07.2010
Maria Stella de Azevedo Santos
OUVI: Os meus mais velhos me contavam que no início dos tempos os homens não admitiam ter um líder entre eles. Ôlôrun, então, determinou que fizessem a primeira eleição na Terra, a fim de que um líder fosse escolhido para dar fim à anarquia existente. A ordem foi dada no sentido de que todos, independente de sexo, idade e cor, participassem da disputa. Enfim, que a disputa fosse democrática. Contrariando as ordens de Ôlôrun, os mais velhos decidiram que o líder seria escolhido entres eles, optando-se por aquele que tivesse mais cabelos brancos. Ôlôrun não admitiu mais aquela desobediência e disse que todo velho merece respeito, mas que nem todos são dignos dele, pois os ladrões, assassinos e canalhas também envelhecem.
VI: Eu estava passando por uma rua estreita, quando vi um homem relativamente forte ameaçando outro que era deficiente físico. Fiquei atenta, pois se houvesse agressão física a luta seria desigual. Mas alguém chamou a polícia e tudo ficou resolvido. Fui, então, estar com o homem aparentemente mais frágil, a fim de confortá-lo, quando ele me disse: “só agora entendi porque deus me fez com dificuldades físicas, pois se eu não as tivesse seria um valentão, provavelmente estaria perdido no caminho, e ao invés de estar em uma cadeira, eu estaria agora em uma prisão”.
LI: “Era uma vez um rei que vivia sempre acompanhado por um sacerdote. Todas as vezes que o rei se queixava com o sacerdote, este dizia: ‘Tudo que Deus faz é certo’. Um dia, os dois saíram para caçar. Por acidente, o sacerdote arrancou um dedo do rei com o machado. O rei esbravejou com o sacerdote, que disse: ‘Tudo que Deus faz é certo’. Mais enraivecido ainda, o rei mandou prender o sacerdote. Tranquilamente, este disse: ‘Tudo que Deus faz é certo’. Mesmo sem um dedo, o rei retornou às caçadas, quando foi atacado por uma tribo de canibais. No momento de ser comido pelos canibais, um deles percebeu a falta do dedo no rei e o libertou, pois naquela tribo pessoas mutiladas não serviam como alimento. Só então o rei percebeu o significado das palavras usadas pelo sacerdote. Agradecido à providência divina e ao sacerdote, já que graças à falta do dedo sua vida tinha sido salva, o rei ordenou que o sacerdote fosse libertado. O rei já tinha compreendido que tudo que deus faz é certo, mas uma coisa ainda o intrigava. O rei, então, foi conversar com o sacerdote e lhe perguntou: ‘Como Deus permitiu que um homem tão bom como Vossa Reverendíssima ficasse preso? Ao que o sacerdote respondeu: ‘Tudo que Deus faz é certo. Se eu não estivesse preso, seria caçado junto com Vossa Majestade. Como não sou mutilado, estaria morto neste momento’.”
APRENDI: Eu aprendi com o que ouvi, vi e li que por mais idade que se tenha ninguém é sábio suficiente para que não continue sendo um permanente aprendiz. Tanto que o provérbio yorubá diz: “Ôlôgbön kan ò ta kókó omi sétí aÿö” = “Não há sábio que consiga prender com um nó a água na roupa”. Por isso, mesmo que com o passar da idade os órgãos do sentido não funcionem como antes, é preciso continuar ouvindo, vendo e usando a língua com sabedoria para transmitir aos mais novos as permanentes novas lições que se recebe a todo dia, a todo instante. Viver é aprender! Aprender é ensinar! Ensinar é reaprender!
TRANSMITI: A vida deu para mim a oportunidade de poder transmiti os muitos ensinamentos que recebi de deuses e homens. Sendo um dos mais úteis a noção de que nem todo mau é mal e nem tudo que parece bom seria para nosso bem. Afinal, tudo que deus faz é certo, até quando nos parece errado. Mas não sou a única a poder transmiti aprendizados. A todos é dado o direito e principalmente o DEVER de buscar aprender constantemente e revelar, da maneira que lhe for possível, os conhecimentos adquiridos, mesmo quando estes ainda não foram incorporados em sua personalidade. Pois, o exemplo é muito importante, mas não necessariamente tudo. Ninguém precisa, por exemplo, deixar de comer açúcar, para ensinar aos filhos o mal que esta substância faz ao corpo físico, quando ingerida em excesso.
Maria Stella de Azevedo Santos é Iyalorixá do Ilê Axé Opô Afonjá

Nenhum comentário:

Postar um comentário