“ENCONTRO ÁFRICA E
DIÁSPORA AFRICANA”
Senhoras e Senhores, boa noite, a partir de agora estaremos
dando inicio a abertura oficial do Encontro África e Diáspora Africana
Oportunidades para o desenvolvimento do Continente.
Em nome do Comitê Organizador da Câmara dos Deputados,
formado pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional a Frente
Parlamentar Mista pela Igualdade Racial em Defesa dos Quilombolas, das
lideranças do movimento social aqui representada de todos os parceiros,
patrocinadores e apoiadores do “Encontro África e Diáspora Africana:
Oportunidade para o Desenvolvimento do Continente” saúdo os presentes e os
convido a assumir um compromisso histórico de transformar esta iniciativa num
marco definitivo da trajetória de afirmação existencial e civilizatória da
presença negra na sociedade brasileira.
No jubileu de ouro da União Africana, evento ocorrido em Adis
Abeba em maio deste ano, assumimos o compromisso público para a realização do
“ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA” como uma forma de contribuição efetiva do
Brasil e dos países da América que compõem a Diáspora Africana de cumprir o seu
papel na MATERIALIZAÇÃO do “Projeto África Visão 2063” visando “construir uma
África integrada, próspera e pacífica, liderada e gerida pelos seus próprios
cidadãos e representando uma força dinâmica na arena internacional”.
A importância histórica desta iniciativa pode ser
dimensionada em diversos planos. Nesta abertura das atividades, quero destacar
a radicalização da ousadia democratizante que as iniciativas protagonizadas
pelo povo negro têm demonstrado, no decorrer dos cinco séculos de formação
inconclusa da identidade nacional e da sociedade brasileira. É nesta magnitude
que situo a realização do “ENCONTRO
ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA – oportunidades para o desenvolvimento do continente”.
Um marco tão relevante quanto a formação dos quilombos, a
engenhosa constituição da capoeira, a estratégica reconstrução política,
civilizacional e espiritual das religiosidades de matrizes africanas, a
mobilização popular do abolicionismo radical de Luiz Gama, a organização
política exemplar da combativa Frente Negra Brasileira, o revolucionário Teatro
Experimental do Negro, a reconstrução contemporânea da identidade negra
reafirmada pela criação do Ilê Aiyê, a afirmação pelo Movimento Negro do 20 de
novembro como dia nacional da Consciência Negra, a conquista pelo povo negro
das iniciais políticas de ações afirmativas e promoção da igualdade racial, a
articulação nacional de pesquisadores negros e negras, etc.
A relevância estratégica desta iniciativa se afirma, também,
pela reapropriação daqueles instrumentos e formas culturais usurpadas pela
monocultura europeia, impregnada de etnocentrismo, de fraude histórica e de
negação da alteridade-diversidade. Refiro-me à produção escrita. Inobstante o
domínio milenar da escrita por povos e civilizações africanas – que só para
ilustrar podemos citar os hieróglifos egípcios, a escrita ideográfica dos
Akan-Ashanti, representada pelos símbolos adinkra, dos quais entre nós é
bastante conhecido o sankofa; a escrita nsibidi, dos povos do sudoeste do
Camarões Sudeste da Nigéria, a escrita tsona ou sona, utilizadas por povos
bantus de Angola e Zâmbia – mesmo assim, uma das principais fraudes históricas
produzidas pelo eurocentrismo tem sido a negação da capacidade de expressão
escrita dos registros existenciais dos povos negros na diáspora.
Daí o significado estratégico da 2ª FEAFRO – Feira Internacional de Negócios compondo
o “ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA”,
que tem por objetivo estabelecer relações comerciais e econômicas entre Brasil,
África e Diáspora Africana. Trata-se de aperfeiçoar a
desmistificação já realizada secularmente em nossa sociedade por mulheres
negras e homens negros que, mesmo contra todos os obstáculos, produzem poesia,
romance, ciência, jornalismo, filosofia, economia, conhecimento religioso, etc.
Não se trata, aqui, de inventar a roda. Trata-se de colocá-la
para girar velozmente na direção por nós escolhida. Assegurar espaço,
visibilidade, reconhecimento e estruturar as condições de democratizar o acesso
às ricas fontes civilizacionais retratadas pela produção intelectual negra na
África e Diáspora.
A partir do lançamento oficial do “Projeto África Visão 2063”, e do
que ele pode desencadear, superaremos definitivamente o tratamento minorizador
e discriminatório reservado às expressões civilizatórias de matrizes africanas
em nossa sociedade. Rejeitaremos o epistemicídio sistemático realizado por
universidades e institutos de pesquisa brasileiros e internacionais. Não há
mais lugar para falarem por nós, como ainda insistem intelectuais e acadêmicos
que buscam perigosas reinvenções da farsa da democracia racial, resistindo às
políticas afirmativas de promoção da igualdade racial. Não há mais lugar para
reduzirem nosso sofisticado acervo civilizatório a expressões folclóricas.
Sem prejuízo da manutenção de formas
tradicionais de expressão intelectual, como a literatura oral e a mito-poesia
de tradição africana, avançaremos para consolidar a produção e publicação
literária e a circulação das ideias, da ficção, da ciência, dos valores
estéticos, éticos e políticos do povo negro.
Portanto, resgatando nossos históricos enfrentamentos neste
terreno, dedicamos esta EXPERIENCIA
a alguns personagens fundamentais, que construíram as condições para estarmos aqui,
hoje, celebrando e conquistando novos territórios:
A primeira homenagem deve-se ao Senhor Cheik Anta
Diop, futurista, cientista e pesquisador. Conceituador do pan-africanismo, Graças a ele Os africanos reconhecem
que o desenvolvimento é uma obrigação que necessita encontrar atalhos e
utilizar a velocidade necessária para reduzir as lacunas históricas. Nós
compreendemos que a condição preliminar para assegurar essa agenda é a unidade
política da África e a cooperação solidária com a sua diáspora.
A segunda
homenagem vai para Kwame Nkrumah – presidente de Ghana que retoma a moderna
ideia de uma África forte em um Futuro próximo, e de uma União Africana melhor
articulada e prospera.
Queremos fazer, também, outros registros relevantes:
homenagear a quase centenária trajetória política e intelectual de Abdias do
Nascimento, com mais de 20 livros publicados, e uma inestimável contribuição
política à sociedade brasileira. Homenageamos, também, os Cadernos Negros,
publicados há 36 anos, divulgando escritores negros contemporâneos, sob a
direção do Quilombo hoje Literatura. Homenageamos por fim a memória do poeta
Oliveira Silveira, recentemente falecido, autor da proposta de celebração do 20
de novembro como data do povo negro brasileiro.
África e Diáspora Africana a saída é o futuro...
Que sejam proveitosos nossos trabalhos.
Samuel Azevedo
Gerente de
Relações Institucionais do DEPIR – Departamento de Promoção da Igualdade Étnico
Racial do Município de São Francisco do Conde – Bahia
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