sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

ENCONTRO ÁFRICA E DIASPORA AFRICANA


“ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA”

Senhoras e Senhores, boa noite, a partir de agora estaremos dando inicio a abertura oficial do Encontro África e Diáspora Africana Oportunidades para o desenvolvimento do Continente.

Em nome do Comitê Organizador da Câmara dos Deputados, formado pela Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional a Frente Parlamentar Mista pela Igualdade Racial em Defesa dos Quilombolas, das lideranças do movimento social aqui representada de todos os parceiros, patrocinadores e apoiadores do “Encontro África e Diáspora Africana: Oportunidade para o Desenvolvimento do Continente” saúdo os presentes e os convido a assumir um compromisso histórico de transformar esta iniciativa num marco definitivo da trajetória de afirmação existencial e civilizatória da presença negra na sociedade brasileira.

No jubileu de ouro da União Africana, evento ocorrido em Adis Abeba em maio deste ano, assumimos o compromisso público para a realização do “ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA” como uma forma de contribuição efetiva do Brasil e dos países da América que compõem a Diáspora Africana de cumprir o seu papel na MATERIALIZAÇÃO do “Projeto África Visão 2063” visando “construir uma África integrada, próspera e pacífica, liderada e gerida pelos seus próprios cidadãos e representando uma força dinâmica na arena internacional”.

A importância histórica desta iniciativa pode ser dimensionada em diversos planos. Nesta abertura das atividades, quero destacar a radicalização da ousadia democratizante que as iniciativas protagonizadas pelo povo negro têm demonstrado, no decorrer dos cinco séculos de formação inconclusa da identidade nacional e da sociedade brasileira. É nesta magnitude que situo a realização do “ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA – oportunidades para o desenvolvimento do continente”.

Um marco tão relevante quanto a formação dos quilombos, a engenhosa constituição da capoeira, a estratégica reconstrução política, civilizacional e espiritual das religiosidades de matrizes africanas, a mobilização popular do abolicionismo radical de Luiz Gama, a organização política exemplar da combativa Frente Negra Brasileira, o revolucionário Teatro Experimental do Negro, a reconstrução contemporânea da identidade negra reafirmada pela criação do Ilê Aiyê, a afirmação pelo Movimento Negro do 20 de novembro como dia nacional da Consciência Negra, a conquista pelo povo negro das iniciais políticas de ações afirmativas e promoção da igualdade racial, a articulação nacional de pesquisadores negros e negras, etc.

A relevância estratégica desta iniciativa se afirma, também, pela reapropriação daqueles instrumentos e formas culturais usurpadas pela monocultura europeia, impregnada de etnocentrismo, de fraude histórica e de negação da alteridade-diversidade. Refiro-me à produção escrita. Inobstante o domínio milenar da escrita por povos e civilizações africanas – que só para ilustrar podemos citar os hieróglifos egípcios, a escrita ideográfica dos Akan-Ashanti, representada pelos símbolos adinkra, dos quais entre nós é bastante conhecido o sankofa; a escrita nsibidi, dos povos do sudoeste do Camarões Sudeste da Nigéria, a escrita tsona ou sona, utilizadas por povos bantus de Angola e Zâmbia – mesmo assim, uma das principais fraudes históricas produzidas pelo eurocentrismo tem sido a negação da capacidade de expressão escrita dos registros existenciais dos povos negros na diáspora.

 

Daí o significado estratégico da 2ª FEAFRO – Feira Internacional de Negócios compondo o “ENCONTRO ÁFRICA E DIÁSPORA AFRICANA”, que tem por objetivo estabelecer relações comerciais e econômicas entre Brasil, África e Diáspora Africana. Trata-se de aperfeiçoar a desmistificação já realizada secularmente em nossa sociedade por mulheres negras e homens negros que, mesmo contra todos os obstáculos, produzem poesia, romance, ciência, jornalismo, filosofia, economia, conhecimento religioso, etc.

Não se trata, aqui, de inventar a roda. Trata-se de colocá-la para girar velozmente na direção por nós escolhida. Assegurar espaço, visibilidade, reconhecimento e estruturar as condições de democratizar o acesso às ricas fontes civilizacionais retratadas pela produção intelectual negra na África e Diáspora.

A partir do lançamento oficial do “Projeto África Visão 2063”, e do que ele pode desencadear, superaremos definitivamente o tratamento minorizador e discriminatório reservado às expressões civilizatórias de matrizes africanas em nossa sociedade. Rejeitaremos o epistemicídio sistemático realizado por universidades e institutos de pesquisa brasileiros e internacionais. Não há mais lugar para falarem por nós, como ainda insistem intelectuais e acadêmicos que buscam perigosas reinvenções da farsa da democracia racial, resistindo às políticas afirmativas de promoção da igualdade racial. Não há mais lugar para reduzirem nosso sofisticado acervo civilizatório a expressões folclóricas.

 

Sem prejuízo da manutenção de formas tradicionais de expressão intelectual, como a literatura oral e a mito-poesia de tradição africana, avançaremos para consolidar a produção e publicação literária e a circulação das ideias, da ficção, da ciência, dos valores estéticos, éticos e políticos do povo negro.

Portanto, resgatando nossos históricos enfrentamentos neste terreno, dedicamos esta EXPERIENCIA a alguns personagens fundamentais, que construíram as condições para estarmos aqui, hoje, celebrando e conquistando novos territórios:

A primeira homenagem deve-se ao Senhor Cheik Anta Diop, futurista, cientista e pesquisador. Conceituador do  pan-africanismo, Graças a ele Os africanos reconhecem que o desenvolvimento é uma obrigação que necessita encontrar atalhos e utilizar a velocidade necessária para reduzir as lacunas históricas. Nós compreendemos que a condição preliminar para assegurar essa agenda é a unidade política da África e a cooperação solidária com a sua diáspora.

A segunda homenagem vai para Kwame Nkrumah – presidente de Ghana que retoma a moderna ideia de uma África forte em um Futuro próximo, e de uma União Africana melhor articulada e prospera.

Queremos fazer, também, outros registros relevantes: homenagear a quase centenária trajetória política e intelectual de Abdias do Nascimento, com mais de 20 livros publicados, e uma inestimável contribuição política à sociedade brasileira. Homenageamos, também, os Cadernos Negros, publicados há 36 anos, divulgando escritores negros contemporâneos, sob a direção do Quilombo hoje Literatura. Homenageamos por fim a memória do poeta Oliveira Silveira, recentemente falecido, autor da proposta de celebração do 20 de novembro como data do povo negro brasileiro.

 

África e Diáspora Africana a saída é o futuro...

 

Que sejam proveitosos nossos trabalhos.

 

Samuel Azevedo

 Gerente de Relações Institucionais do DEPIR – Departamento de Promoção da Igualdade Étnico Racial do Município de São Francisco do Conde – Bahia

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